quinta-feira, 31 de maio de 2007


Always, de Alberto Viana d'Almeida (in www.olhares.com)



"Não é verdade que no coração existam quatro cavidades.


Na verdade, o coração divide-se em tantas assoalhadas

quantas as pessoas


que ocupam um lugar dentro de nós."



Eduardo Sá, Tudo o que o Amor não É

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Amostra sem valor...

Deslumbre, de Fátima Joaquim (in: www.olhares.com)


Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.

Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
com ele se entretém
e se julga intangível.

Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.

Eu sei que as dimensões impiedosas da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.

ANTÓNIO GEDEÃO

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Do lado de lá...

[dos outros]2, de Paulo Passos (in: www.olhares.com)


Tenho estado distraída com dias demasiado iguais...tentando controlar tudo o que se passa cá dentro! Esqueço-me que do outro lado da janela o mundo "pula e avança", numa direcção que eu própria pareço desconhecer...

Receio o que está do lado de lá... vou continuar a viver esta vida que sei estar presa por um fio...resta-me pouco tempo.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Coimbra



"...Teu fado inspira ternura,

sentimento e alegria
o que apela à Saudade..."

José Medeiros


terça-feira, 1 de maio de 2007

Como explicar o Amor...


Não me fales de... (de Rui J. Santos) - in www.olhares.com

Contam que, uma vez, reuniram-se os sentimentos e as qualidades dos homens, num lugar da Terra.
Quando o ABORRECIMENTO havia reclamado pela terceira vez, a
LOUCURA, como sempre tão louca, propôs-lhe:
- Vamos brincar as escondidas?
A INTRIGA levantou a sobrancelha, intrigada, e a CURIOSIDADE, sem poder conter-se, perguntou: «- Escondidas? Como e isso?»
- É um jogo - explicou a LOUCURA - em que eu fecho os olhos e começo a contar de um a um milhão enquanto vocês se escondem e, quando eu tiver terminado de contar, o primeiro de vocês que eu encontrar ocupará o meu lugar para continuar o jogo. O ENTUSIASMO dançou, seguido pela EUFORIA.
A ALEGRIA deu tantos saltos que acabou convencendo a DÚVIDA e ate mesmo a APATIA, que nunca se interessava por nada. Mas nem todos quiseram participar: a VERDADE preferiu não se esconder; para que no final todos a encontrassem?
A SOBERBA opinou que era um jogo muito pouco interessante e a COVARDIA preferiu não se arriscar.
- Um, dois, três, quatro... - começou então a contar a LOUCURA.
A primeira a esconder-se foi a PRESSA, que, como sempre, caiu atrás da primeira pedra do caminho.
A FÉ subiu ao céu e a INVEJA escondeu-se atrás da sombra do TRIUNFO, que com o seu próprio esforço, tinha conseguido subir até à copa da árvore mais alta.
A GENEROSIDADE quase não se conseguia esconder, pois cada local que encontrava lhe parecia maravilhoso para algum de seus amigos - se era um lago cristalino, era ideal para a BELEZA; se era a copa de uma árvore, era perfeito para a TIMIDEZ; se era o voo de uma borboleta, seria o melhor para a VOLÚPTIA; se era uma rajada de vento, magnifico seria para a LIBERDADE. E assim, acabou por se esconder num raio de sol.
O EGOÍSMO, pelo contrário, encontrou um local muito bom desde o início - ventilado, cómodo, mas apenas para ele.
A MENTIRA escondeu-se no fundo do oceano (mentira, na realidade, escondeu-se atrás do arco-íris), por sua vez a PAIXÃO e o DESEJO no centro dos vulcões.
O ESQUECIMENTO, não me recordo onde se escondeu, mas isso não é o mais importante.
Quando a LOUCURA estava nos 999.999, o AMOR ainda não havia encontrado um local para se esconder, pois já estavam todos ocupados; até que encontrou um roseiral e, carinhosamente, decidiu esconder-se entre as flores.
- Um milhão! - contou a LOUCURA. E começou a busca.
A primeira a aparecer foi a PRESSA, apenas a três passos de uma pedra. Depois, escutou-se a FÉ discutindo com Deus, no céu, sobre Zoologia.
Sentiu-se vibrar a PAIXÃO e o DESEJO nos vulcões.
Por mero acaso, encontrou a INVEJA, e claro, pode deduzir onde estava o TRIUNFO.
Ao EGOÍSMO, nem teve sequer que procurá-lo: ele saiu sozinho, disparado, do seu esconderijo, que na verdade era um ninho de vespas.
De tanto caminhar, a LOUCURA sentiu sede e, ao aproximar-se de um lago, descobriu a BELEZA.
A DÚVIDA foi mais fácil ainda, pois encontrou-a sentada sobre uma cerca, sem decidir de que lado se esconder.
E assim foi encontrando-os a todos.
O TALENTO entre a erva fresca; a ANGÚSTIA numa cova escura; a MENTIRA atrás do arco-íris (mentira, estava no fundo do oceano); e até o ESQUECIMENTO, de quem já se tinham esquecido que também estava a brincar à escondida.
Apenas o AMOR não aparecia em nenhum lugar. A LOUCURA procurou atrás de cada árvore, debaixo de cada rocha do planeta e no cimo das montanhas.
Quando estava a ponto de dar-se por vencida, encontrou um roseiral. Pegou numa forquilha e começou a mover os ramos, quando, no mesmo instante, se escutou um doloroso grito: os espinhos tinham ferido o AMOR nos olhos.
A LOUCURA não sabia o que fazer para se desculpar: chorou, rezou, implorou, pediu perdão e até prometeu ser a guia do AMOR para sempre.
Desde aí, que pela primeira vez se brincou às escondidas na Terra, o AMOR é cego e a LOUCURA sempre o acompanha."