sábado, 28 de outubro de 2006

"A todos os que acreditam na vontade que existe nas pequenas coisas…”

Mora(s) num livro, de Daniel Camacho
"No canto de cada sonho nasce a vontade...
...A vontade de que as lágrimas apaguem o fogo, de que as cartas calem as armas, de que os amores sejam os melhores amigos de quem os tem, de que as mãos grandes e mansas da noite embalem o sono dos homens cansados.
...A vontade que o mundo vá devagarinho e tranquilo como a ribeira que serpenteia ingénua a brincar com a lua, como as ondinas que vão cantarolando de pedra em pedra, como a onda terna e sábia que afaga o rochedo, terna porque afaga, sábia porque entende. Enquanto o rochedo espera pela madrugada porque lhe conhece o brilho e a cor que esgravata na utopia de todas as vontades."
Sebastião Antunes
(Quadrilha, A cor da vontade , 2003)

sexta-feira, 27 de outubro de 2006

Saborear a vida é uma aprendizagem solitária...

Leva-me contigo (de Luís Pinto)

A Felicidade é, acima de tudo, estar atento às coisas simples da vida.

Aproveitar o instante que passa.

(Maria José Costa Félix)


"Quantas vezes precisamos desta solidão?"
Nuno Duarte (in: www.olhares.com)

O cântaro partido

A Gota, de Samuel Jorge Fernandes

Um aguadeiro indiano tinha dois grandes cântaros. Transportava-os suspensos às duas extremidades de uma vara de madeira que se ajustava à forma dos seus ombros. Um dos cântaros tinha uma brecha, e, enquanto o outro cântaro conservava perfeitamente toda a sua água da fonte até à casa do amo, o cântaro lascado perdia quase metade da sua preciosa carga durante o caminho. Isto durou 2 anos, durante os quais, todos os dias, o aguadeiro só entregava um cântaro e meio de água em cada uma das suas viagens. Claro, o cântaro intacto sentia-se orgulhoso, visto que conseguia cumprir a sua missão do princípio até ao fim sem falhar. Mas o cântaro lascado tinha vergonha da sua imperfeição e sentia-se deprimido porque só conseguia cumprir metade do que era suposto ser capaz. Ao fim de 2 anos daquilo que considerava como um desaire permanente, o cântaro lascado dirigiu-se ao aguadeiro, num momento em que este último o enchia na fonte. "Sinto-me culpado, e peço que me desculpes." "Porquê?" perguntou o aguadeiro. "De que tens vergonha?" "Durante 2 anos, apenas consegui transportar metade da minha carga de água para o nosso amo, devido a esta brecha que deixa entornar a água. Por minha culpa, fazes todos estes esforços, e, no final, só entregas metade da água ao nosso amo. Não obténs o reconhecimento completo dos teus esforços", disse-lhe o cântaro lascado. O aguadeiro ficou emocionado com esta confissão, e, cheio de compaixão, respondeu: "Enquanto voltamos à casa do amo, quero que observes as magníficas flores que estão à borda da estrada". Assim à medida que subiam pelo caminho, ao longo da colina, o velho cântaro viu, na borda do caminho, magníficas flores banhadas pelo sol, e aquilo aliviou-lhe o coração. Mas no fim do percurso, continuava a sentir-se mal porque tinha voltado a perder metade da sua água. O aguadeiro disse ao cântaro: "Apercebeste-te de que havia flores lindas do TEU lado, e quase nenhuma do lado do cântaro intacto? Como sempre soube que entornavas água, decidi tirar partido disso. Espalhei sementes de flores no caminho do teu lado, e, todos os dias, tu rega-las durante todo o percurso. Durante 2 anos, consegui, graças a ti, apanhar flores magníficas que embelezaram a mesa do amo. Sem ti, nunca teria conseguido encontrar flores tão frescas e tão graciosas."
MORAL DA HISTÓRIA: Todos temos brechas, feridas, defeitos. Somos todos cântaros lascados. Alguns de nós estamos enfraquecidos pela velhice, outros não brilham pela sua inteligência, outros são demasiado altos, demasiado fortes ou demasiado magros, alguns são calvos, outros estão debilitados fisicamente, mas são as brechas, os defeitos que temos que tornam as nossas vidas mais interessantes e exaltantes. Devemos tomar os outros tais como eles são, e ver o que há de bom neles. Há coisas muito positivas por todo o lado. Há muita coisa boa dentro de cada um de nós! Aqueles que são flexíveis têm a sorte de não conseguirem ser deformados. Não devemos esquecer de apreciar todas as pessoas tão diferentes que povoam a nossa vida! Sem elas, a vida seria bem triste. Há que apreciar afectuosamente as nossas imperfeições e aprender a saber viver com elas!

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

Alerta Amarelo!!

Bad Angel II, de Miguel Sousa e Slva
Basta de inundações de tristeza
provocadas pelas lágrimas que inúmeras vezes derramamos...
Basta de derrocadas
causadas pela incerteza que muitas das vezes nos abalam as convicções...
Basta de trovoadas
impregnadas de críticas e comentários despropositados...
Basta de tantos cortes
nos trilhos que nos podem levar a conquistar algo...
O quê? não sei...
Mas, qualquer dia espero ter a resposta!

domingo, 22 de outubro de 2006

Asas...

Asas servem p’ra voar
Para sonhar ou p’ra planar
Visitar, espreitar, espiar
Mil casas no ar
As asas não se vão cortar
Asas são p’ra combater
Num lugar infinito
Num vácuo para ir espiar o ar
Asas são p’ra proteger
Te pintar, não esquecer
Visitar-te, olhar-te, espreitar-te
Bem alto do ar
E só quando quiseres pousar
A paixão que te roer
É o amor que vês nascer
Sem prazo, idade de acabar
Não há leis para te prender
Aconteça o que acontecer…

GNR, Asas (Eléctricas)

Vamos pensar duas vezes!


Algures por aí li a seguinte lenda Índia.
Esta antiga lenda diz-nos que um dia um homem achou um ovo de águia e que o depositou num ninho de "galinhas do campo" para crescer com elas. Toda a sua vida, a águia fez o que uma galinha faz normalmente. Procurava na terra os insectos e a comida. Cacarejava como uma galinha. Voava só algum metros, tal como todas as galinhas, e era uma nuvem de penas.
Os anos passaram e a águia envelheceu. Um dia, ela viu um magnifico pássaro a voar no céu sem nuvens. Levantava-se com estilo, com a magnitude das suas asas. "Que belo pássaro!" diz a águia aos vizinhos. "O que é ?" , "É uma águia, o rei dos pássaros", diz a galinha. "Mas não vale a pena pensares nisso. Nunca serás uma águia." Assim ficou a águia, e não voltou a pensar duas vezes. Morreu a pensar que era uma galinha. Já pensaste que podias ser uma galinha do campo? Vamos pensar duas vezes...

sábado, 21 de outubro de 2006

Felicidade

Areia, Carlos Neves (In www.1000imagens.com)

Pela flor pelo vento pelo fogo
Pela estrela da noite tão límpida e serena
Pelo nácar do tempo pelo cipreste agudo
Pelo amor sem ironia - por tudo
Que atentamente esperamos
Reconheci tua presença incerta
Tua presença fantástica e liberta


Sophia de Mello Breyner Andresen, Livro Sexto (1962)


quinta-feira, 19 de outubro de 2006

Tempo de ancorar...


Regressei de uma longa viagem...
É tempo de ancorar e usufruir da quietude desta baía. É tempo de analisar os estragos sofridos aquando das tempestades que fustigaram a pequena embarcação e as alegrias experimentadas em dias de bonança. É tempo de analisar-me a mim própria: paixões, desamores, pequenas vitórias, ilusões, medos vividos e sentidos em alto-mar... É tempo de (re)descobrir-me no diário de bordo e redigir, a tinta permanente, as últimas páginas desta viagem ao meu interior. É tempo de traçar um novo rumo em busca do "meu" porto de abrigo...
O tempo passa. A ânsia de partir entranha-se. O momento de içar a âncora, que me prende a esta baía, está cada vez mais próximo...
Sinto-o!

O poder das palavras...


Há palavras que impressionam, incomodam, paralisam…
Percorrem trilhos labirínticos
E nos levam onde jamais chegará a razão

Há palavras que perduram,
Imprimem em nós sentimentos que se julgavam adormecidos
Fazem-nos chorar por dentro ao mesmo tempo que nos aquecem o coração…

Há palavras que enfeitiçam, mimam, apaziguam…
Acarinham, enternecem,
apaixonam…

Palavras como essas, não as leva o vento…

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

(re)Começar de novo...

Depois talvez construir
Ou navegar os dias
Pressentir
Percorrer os caminhos que houver
Há sempre uma maneira
De recomeçar
O que se quiser
Deixa-me assim refazer
Ou desfazer os rumos
Descobrir
Entender o destino que vier
Porque há sempre uma maneira
De mudar
O que se não quer
Depois talvez na incerteza
Descobrir o que está certo
E no amor
No desamor
Virar a vida do avesso
Ficar mais fundo e mais perto
Do calor
Deixa-me só seguir o rumo
De outro sentimento
Que acontecer
Nem tudo o que nos ata
Nos pode prender
Porque há sempre uma maneira
De recomeçar...

(Mafalda Veiga, Ficar mais perto...)

...me Quer?!


Mal-me-Quer... Bem-me-Quer... Mal-me-Quer...
Bem-me-Quer... Mal-me-Quer... Bem-me-Quer... Mal-me-Quer... Bem-me-Quer...
...

Nas nossas mãos


“ Está nas nossas mãos encarar cada dia que começa como uma nova oportunidade para alterar ou recomeçar algo na nossa vida que lhe renove o encanto”.

Maria José Costa Félix, Mais e Melhor (2003)



domingo, 15 de outubro de 2006

Tempo suspenso...


O tempo parece estar supenso quando tu não vens...
quando demoras a chegar ou simplesmente adias a tua vinda...
Mas continuo aqui...
Esperando por ti e pelas palavras que me aqueçem o coração
Me acariciam e me beijam como se tivessem boca!
Sabes onde me encontrar...

Um A(re)CORDAR


Acordara hoje bastante cedo. Sentia-me recuperada do cansaço de uma semana, que parecera longa de mais. Estava um dia sombrio, uma manhã de sábado, típica da estação do ano que agora atravessávamos: o Outono. O sol não brilhava, nem, somente espreitava, timidamente, por entre as nuvens cinzentas.

Ao menos não chovia…

Para mim a chuva sempre esteve aliada a um certo mal-estar interior. Por algum motivo se ouve dizer que no Inverno existem mais depressões???

Estava realmente um dia cinzento! À beira-mar, estes dias cinzentos tinham um encanto especial: o mar parecia estar chateado com alguma coisa e despejava a sua raiva contra as rochas… Até parece que estou vendo o rebentar das ondas…

Embora o mar, nos Açores, seja lindo em qualquer estação do ano, sempre considerei o mar no Inverno bem mais bonito que no Verão… Talvez não fosse mais bonito apenas, inquestionavelmente, diferente…

No Verão estava tão calmo que mais parecia azeite, de um azul estonteante, que contrastava com o verde das encostas. Nesses dias a linha do horizonte parecia estar melhor definida, porém inalcançável… No Inverno, contrariamente, o mar perdia o seu tom azul vivo, era muito mais escuro, parecia zangado e toda a sua fúria era mandada contra os penhascos…

Apesar da agitação, este mar bravio, furioso, transmitia-me uma paz… quando o contemplava, todas as minhas inquietações pareciam apaziguar-se, como se fosse eu mandar, igualmente, toda a minha ira contra aqueles penhascos, que não tinham culpa nenhuma que a vida me corresse assim, menos bem, de vez em quando.

Só agora, a uma distância de alguns anos desse tempo, descobri que nem o mar, nem o céu, as outras pessoas, ou mesmo algo que nos é superior tem culpa daquilo que nos acontece, apenas NÓS!

"Eu, ilhéu, me confesso..."


"A minha emigração não foi tão inteira como a de meus pais, avós e outra parentela mais ou menos chegada (...) Da ilha levantei ferro encolhido num camarote de terceira, o rumo traçado a Coimbra. E como os emigrantes deveras, também não fui capaz de cortar o cordão umbilical que a ela, Ilha, para sempre me enleou..."
(Cristóvão de Aguiar, escitor açoriano)