segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

(Bem) na minha mão...




"...Enquanto vergo, não parto
Enquanto choro, não seco
Enquanto vivo, não corro
À procura do que é certo

Presa por um fio
Na vertigem do vazio
Que escorrega entre os dedos
Preso em duas mãos
Que o futuro é mais
O presente coerente na razão
Frases feitas são reféns da pulsação..."


SUSANA FÉLIX


sábado, 9 de fevereiro de 2008

(entre)laços

(entre)laços, Foto de Maria São Miguel

Hoje, no meu percurso de todos os dias, cruzei-me com uma senhora, de alguma idade, que vive na mesma rua que eu, e que conheci num dia em que me confundiu com outra pessoa daqui...

Quando lhe perguntei como estava, vi no rosto dela que alguma coisa a perturbava. Ela contou-me que esta manhã tinha sido hospitalizado um vizinho "nosso", que estava bastante doente, e que possivelmente já não regressaria mais.

As lágrimas rolavam-lhe pela rosto e as palavras sofridas que pronunciava evidenciavam claramente um grande afecto que com a conversa foi desvendando.

Tinham nascido, crescido e vivido toda uma vida muito próximos. Viram os filhos crescer juntos, em saudável convivência e agora que estavam mais velhos eram uma companhia, mútua, que não dispensavam. Para ela, pensar que não o voltaria a ver era, sem margem para dúvidas, sinónimo de dor, de perda, como se de um familiar se tratasse, afinal de contas há laços que se criam tão ou mais fortes que os de sangue.

Admito que não fiquei indiferente a toda esta situação (quem ficaria?) embora conheça mal esta senhora.

Passei o resto do dia a pensar no assunto...nos laços que se criam ao longo da vida e que, com o passar do tempo, deveriam ser cada vez mais fortes... e não consegui evitar que a tristeza se apoderasse deste meu pensamento.
Como poderei criar laços tão fortes se ontem estive num sítio mas hoje estou noutro e possivelmente num futuro próximo já tenha passado por mais uns três ou quatro? As pessoas que conheci outrora, e que considero amigos insubstituíveis, estão hoje longe de mim... e que por mais que queiramos estreitar a distância que nos separa, mais dia menos dia o contacto acabará por se tornar meramente pontual.
E daqui a uns anos?
Será que terei, finalmente, criado raízes num lugar, ter amigos na mesma rua onde moro? Poder partilhar as alegrias e as tristezas? Ver os filhos crescerem em conjunto, e continuarmos a alimentar a amizade de já alguns anos, mesmo que o tempo passe por nós e deixe a sua marca?
Algum dia estarei triste porque um amigo de longa data, que sempre esteve próximo de mim, partiu? E sentirei a mesma tristeza que esta senhora alberga no seu velho coração cansado de algumas perdas já vividas? Ou será este episódio o passado, destes senhores de alguma idade, que jamais será o nosso passado?

(...porque o tempo que vivemos não deixa que as nossas vidas se entrelacem, por mais do que breves momentos...)