Gosto de escrever. Sempre gostei. Basta recuar à infância e me reconhecer como aprendiz de letras para o constatar.
Os meus pais lamentavam a quantidade de papel gasto
com composições ou meros resumos - incompletos, intermináveis ou apenas
esquecidos.
Na verdade, gosto do ato de escrever, de recorrer
às palavras para verbalizar o pensamento. Para expressar sentimentos e
emoções ou simplesmente eternizar histórias minhas, dos outros e, ainda,
as que se concretizam pelas mãos da imaginação.
Quase de forma viciada, dou por mim a apontar
frases que ouço ou leio por aí, num caderninho que sempre me acompanha para
onde quer que vá. E mais do que registar o que me agrada aos sentidos é o
próprio ato de juntar palavras e frases..
Confirma-se: continuo a ter maior facilidade em encarar uma folha em
branco de um caderno pautado do que uma página Word, com um cursor a piscar
incessantemente. Sabe-me sempre bem poder reler o que escrevo e saborear-lhe o
sentimento que pulsa nas entrelinhas.
[Desculpem-me os ambientalistas, os defensores da
sustentabilidade e as próprias árvores que deixarão de receber o sol,
para satisfazer este meu pequeno capricho...]
Sábado à noite não sou tão só
Somente só, a sós contigo assim
E sei dos teus erros, os meus e os teus
Os teus e os meus amores que não conheci Parasse a vida um passo atrás
Quis-me capaz dos erros renascer em ti E se inventado, o teu sorriso for
Fui inventor
Criei o paraíso assim Algo me diz que há mais amor aqui
Lá fora só menti
Eu já fui de cool por aí
Somente só, só minto só
Hei-de te amar, ou então hei-de chorar por ti
Mesmo assim, quero ver-te sorrir...
E se perder, vou tentar esquecer-me de vez, conto até três
Se quiser ser feliz...
Se há tulipas no teu jardim
Serei o chão e a água que da chuva cai
Para te fazer crescer em flor, tão viva a cor
Meu amor eu sou tudo aqui... Sábado à noite não sou tão só
Somente só, a sós contigo assim
Não sou tão só, somente só...
No bairro piscatório da Beira-Mar, em Aveiro, as redes lançam-se ao
céu e não ao mar, para aparar cavacas doces que pagam promessas a S.
Gonçalinho e são atiradas por devotos do alto da capela.
Desde sexta-feira que a sineta do templo toca a avisar o povo de que
são lançadas as cavacas lá de cima, para os incautos se protegerem
porque o doce é duro, mas sobretudo para que centenas de
"pescadores do ar" ergam as nassas ou camaroeiros,
disputando com perícia o doce, numa "faina" digna de se ver, num ritual secular que se repete a 10 de Janeiro de cada ano e no
fim-de-semana que antecede a data.
Na pequena capela do bairro típico da Beira-Mar, o "mais
cagaréu" dos santos de Aveiro presenteia quantos se juntam no
adro com cavacas lançadas em cumprimento de promessas feitas para que
exercesse a sua santa interferência em dificuldades mais ou menos
íntimas. Cá em baixo, ao toque da sineta, junta-se povo de todas as
idades, munido de paus com sacos de rede na ponta ou guarda-chuvas
invertidos, para agarrar o máximo de cavacas. O espectáculo é ímpar e
mais parece pertencer aos modernos "jogos sem fronteiras" do
que a um ritual de devoção secular.
S. Gonçalinho é tido como milagreiro a tratar dos problemas conjugais
de vária índole, ou mesmo a melhorar as "performances" de
sedução. Na atmosfera intimista do pequeno templo hexagonal, os
crentes consultam o santo sobre as suas preocupações mais privadas e a
tradição dá-lhe fama de ser eficaz conselheiro matrimonial.
A consulta, paga na promessa de lançar do alto da Igreja uns quantos
quilos daquele doce típico, nem sai cara, quando comparada com os
gordos dízimos deixados nos modernos consultórios de especialistas
menos reputados.
Não há caso que meta medo a S. Gonçalinho, desde a frigidez à
impotência, da infertilidade aos problemas ósseos, chegando mesmo a
prescrever remédio para o envelhecimento. Mesmo sem cirurgias
plásticas, os ditames populares garantem que até para velhas que se
sintam sozinhas arranja parceiro. Rezam as crónicas que S. Gonçalinho não fia, nem admite avarezas.
Aquele que não cumprir tem de se haver com a ira do santo.
Diz-se que há pessoas interessantes, interessadas e interesseiras. E também as há desinteressantes e desinteressadas e são estas que eu dispensava conhecer! Não é menos verdade que são apreciações muito subjectivas, afinal de contas é-nos interessante aquilo que nos toca positivamente, nos transforma e nos faz bem, que nos dá vontade de agarrar, de conhecer mais, de ver melhor, de saborear devagar como se essas fossem as únicas formas de eternizar a sua presença na nossa vida!
Mas há pessoas desinteressantes e desinteressadas e eu ainda não as consegui perceber (e juro que tenho tentado!): passam pela vida como se a pisar um linha contínua, sem qualquer oscilação de ritmo e não parecem sentir-se minimamente tentadas a sairem dessa linha de quietude. Só vão até onde lhes é pedido, como se fossem desprovidas de vontade própria.
Não são curiosas. São pouco receptivas a novas experiências, aliás, em muitos casos até são intencionalmente "do contra". Criticam os mais ousados, os sonhadores, os aventureiros, os optimistas inveterados que, segundo eles, são loucos e inconscientes.
Se lhes perguntarmos o que querem da vida, não são capazes de formular uma resposta que vá além de um simples encolher de ombros. Preferem ficar do lado de cá ou simplesmente lançarem-se ao sabor da corrente, do que se esforçarem para chegar à outra margem.
Para estes, os dias pintam-se em tons de cinzento e consomem-se, uns atrás dos outros, como fósforos que se queimam lentamente e que se reduzem a pouco (ou muito pouco!).
As coisas simples são sem dúvida o melhor da nossa vida Mas complicamos tanto que ela fica sem saída... ... Emoções puras, coisas simples, boas vibrações Simplifica os sentimentos, momentos e relações Vamos celebrar a vida, não nos faltam razões Não existem problemas, só existem soluções!