terça-feira, 10 de janeiro de 2012

S. Gonçalinho: chovem cavacas em Aveiro



No bairro piscatório da Beira-Mar, em Aveiro, as redes lançam-se ao céu e não ao mar, para aparar cavacas doces que pagam promessas a S. Gonçalinho e são atiradas por devotos do alto da capela. 

Desde sexta-feira que a sineta do templo toca a avisar o povo de que são lançadas as cavacas lá de cima, para os incautos se protegerem porque o doce é duro, mas sobretudo para que centenas de "pescadores do ar" ergam as nassas ou camaroeiros, disputando com perícia o doce, numa "faina" digna de se ver, num ritual secular que se repete a 10 de Janeiro de cada ano e no fim-de-semana que antecede a data.

Na pequena capela do bairro típico da Beira-Mar, o "mais cagaréu" dos santos de Aveiro presenteia quantos se juntam no adro com cavacas lançadas em cumprimento de promessas feitas para que exercesse a sua santa interferência em dificuldades mais ou menos íntimas. Cá em baixo, ao toque da sineta, junta-se povo de todas as idades, munido de paus com sacos de rede na ponta ou guarda-chuvas invertidos, para agarrar o máximo de cavacas. O espectáculo é ímpar e mais parece pertencer aos modernos "jogos sem fronteiras" do que a um ritual de devoção secular.

S. Gonçalinho é tido como milagreiro a tratar dos problemas conjugais de vária índole, ou mesmo a melhorar as "performances" de sedução. Na atmosfera intimista do pequeno templo hexagonal, os crentes consultam o santo sobre as suas preocupações mais privadas e a tradição dá-lhe fama de ser eficaz conselheiro matrimonial.

A consulta, paga na promessa de lançar do alto da Igreja uns quantos quilos daquele doce típico, nem sai cara, quando comparada com os gordos dízimos deixados nos modernos consultórios de especialistas menos reputados.

Não há caso que meta medo a S. Gonçalinho, desde a frigidez à impotência, da infertilidade aos problemas ósseos, chegando mesmo a prescrever remédio para o envelhecimento. Mesmo sem cirurgias plásticas, os ditames populares garantem que até para velhas que se sintam sozinhas arranja parceiro. Rezam as crónicas que S. Gonçalinho não fia, nem admite avarezas. Aquele que não cumprir tem de se haver com a ira do santo.

Fonte: O Público

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