sábado, 23 de abril de 2011

Linhas Cruzadas



Reajo a esse incómodo olhar
Nem quero acreditar
Que vem na minha direcção
Há dias que estou a reparar
Nem queres disfarçar
Roubas a minha atenção
Aprecio o teu dom de tornar
Num clique o meu falar
Numa total confusão
Confesso que só de imaginar
Que te vou encontrar
Me sobe à boca o coração

E falas de ti
E falas do tempo
Prolongas o momento
De um simples cumprimentar
Falas do dia
Falas da noite
Nem sei que responda
Perdido no teu olhar

É certo que sempre ouvi dizer
Que do querer ao fazer
Vai um enorme esticão
Mas haverá quem possa negar
Que querer é poder
E o nunca é uma invenção
Bem sei que este nosso cruzar
Pode até nem passar
De um capricho sem valor
Mas porque raio hei-de evitar
Se esse teu ar
Me trouxe ao sangue calor

E falas de ti
E falas do tempo
Prolongas o momento
De um simples cumprimentar
Falas do dia
Falas da noite
Nem sei que responda
Perdido no teu olhar

[Virgem Suta]


(foto daqui)


Uma mulher não precisa de estar bonita...
Precisa, sim, de se sentir bonita!



terça-feira, 12 de abril de 2011

Katherine

Livros por ler, de Pedro Payalvo (retirada daqui)


Não lhes resiste. Seja biblioteca ou livraria nunca de lá sai sem companhia.

Esquece que o tempo se perde. Capítulo após capítulo viaja a épocas desconhecidas, conhece personagens para as quais deseja roubar as cores ao arco-íris e pintar-lhes um final feliz; para outras apenas deseja ter, à mão, uma borracha para as apagar da história. Vive intensamente aventuras que não são as suas. Sofre e ri. Assusta-se e deixa-se contagiar pela magia das palavras.

A última página de cada livro sabe à nostalgia do último dia de férias. Um cair da tarde inspirador que se deseja eterno. No final, e antes de guardar o livro na estante, reserva sempre algum tempo para se despedir dele. Uma nova viagem está prestes a começar!


quinta-feira, 7 de abril de 2011

Pesadelo

Desespero, de Bruno Moreira (retirado daqui)


Regresso, vezes sem conta, ao inferno onde durante muito tempo fui. Não passei de um fugitivo.

O calor dos dias intermináveis, a vegetação a agredir-me o corpo encharcado de medo e o eco dos corpos inertes perdidos para sempre naquele labirinto, fragmentos de histórias inacabadas povoam-me e não me libertam.
Acordo, sentado na cama, com uma angústia que me toma.

Lá fora chove…
Arrepio-me de frio e, depressa, aconchego-me nos cobertores, aninho-me junto ao teu corpo quente. Concentro-me na tua respiração para apaziguar esta tormenta que me invadiu e me impede de dormir. Pouco a pouco o tumulto dissipa-se.
Ao longe troveja, percebo-o pelo clarão que estilhaça na janela grande do nosso quarto.
Porém, apesar deste pesadelo, anseio, mais do que ontem, que o amanhecer tarde em chegar. O dia rompe a linha do horizonte, denso, cinzento como as minhas olheiras. Mal dormi.
Chegou o momento da partida e sou mais um que sobe as escadas do navio, rumo ao desconhecido continente africano. Até já? Até sempre? Não sei, é cedo demais para o saber.