quinta-feira, 7 de abril de 2011

Pesadelo

Desespero, de Bruno Moreira (retirado daqui)


Regresso, vezes sem conta, ao inferno onde durante muito tempo fui. Não passei de um fugitivo.

O calor dos dias intermináveis, a vegetação a agredir-me o corpo encharcado de medo e o eco dos corpos inertes perdidos para sempre naquele labirinto, fragmentos de histórias inacabadas povoam-me e não me libertam.
Acordo, sentado na cama, com uma angústia que me toma.

Lá fora chove…
Arrepio-me de frio e, depressa, aconchego-me nos cobertores, aninho-me junto ao teu corpo quente. Concentro-me na tua respiração para apaziguar esta tormenta que me invadiu e me impede de dormir. Pouco a pouco o tumulto dissipa-se.
Ao longe troveja, percebo-o pelo clarão que estilhaça na janela grande do nosso quarto.
Porém, apesar deste pesadelo, anseio, mais do que ontem, que o amanhecer tarde em chegar. O dia rompe a linha do horizonte, denso, cinzento como as minhas olheiras. Mal dormi.
Chegou o momento da partida e sou mais um que sobe as escadas do navio, rumo ao desconhecido continente africano. Até já? Até sempre? Não sei, é cedo demais para o saber.



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