quarta-feira, 17 de outubro de 2007


Histórias de Cabeceira e Outras Claustrofobias (Foto de Armindo Dias)


"Morre lentamente quem não viaja, quem não lê,
quem não ouve música, quem destrói o seu amor-próprio, não se deixa ajudar... Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca, não arrisca vestir uma nova cor, não conversa com quem não conhece. Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pontos nos is, a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos... Morre lentamente, quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos. Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projecto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe. Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples acto de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos um estádio esplêndido de felicidade."


Pablo Neruda