terça-feira, 23 de março de 2010

Constatação

Todas as cartas de amor..., de J. Pedro Martins (in: www.olhares.com)


Nascemos todos com vontade de amar.

Ser amado é secundário. Prejudica o amor que muitas vezes o antecede. Um amor que não pode pertencer a duas pessoas, por muito que o queiramos. Cada um tem o amor que tem, fora dele. É esse afastamento que nos magoa, que nos põe doidos, sempre à procura do eco que não vem. Os que vêm são sempre bem-vindos, às vezes, mas não são o que queremos. Quando somos honestos, ou estamos apaixonados, é apenas um que se pretende.

Tenho a certeza que não se pode ter o que se ama. Ser amado não corresponde jamais ao amor que temos, porque não nos pertence. Por isso escrevemos romances - porque ninguém acredita neles, excepto quem os escreve.

Viver é outra coisa. Amar e ser amado distrai-nos irremediavelmente. O amor apouca-se e perde-se quando se dá aos dias e às pessoas. Traduz-se e deixa de ser o que é. Só na solidão permanece. (...)

Tenho o meu amor, como toda a gente, mas não o usei. Tenho também a minha história, mas não a contei...


Miguel Sousa Tavares

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